sexta-feira, 7 de março de 2014

Tendências Subjacentes À Educação Das Pessoas Com Surdez


A inclusão de pessoas surdas não significa somente adotar a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), ou providenciar um tradutor / intérprete em sua sala de aula. Está muito, além disto, o surdo necessita de um ambiente rico em estímulos que lhe sejam adequados, que provoque modos de pensar e agir, fazendo com que haja a exploração de todas as suas possibilidades e capacidades.
Segundo Damázio (2007), são três as tendências subjacentes à educação de pessoas com surdez: A oralista, a comunicação total e abordagem por meio bilinguismo, que por sua vez apresentam características diferenciadas.
 A Oralista: Busca capacitar o aluno surdo a utilizar a língua local da comunidade por uso da voz e da leitura labial. Esta tendência pode provocar uma dificuldade de relacionamento, discriminação da cultura surda, leva a negação da diferença e pode também ocasionar déficits cognitivos.
A Comunicação total: Considera as características da pessoa com surdez e utiliza toda e qualquer possibilidade de comunicação, visando à melhora das relações sociais. Lança mão da linguagem gestual visual, de textos orais, de textos escritos e interações sociais. O contraponto desta tendência é que ela pode promover ao invés da inclusão, uma segregação por deficiência.
E a abordagem educacional bilíngue, visa capacitar a pessoa surda para utilização de duas línguas (Libras e Língua portuguesa oral e escrita) na rotina escolar e na vida social, em que surdos e ouvintes convivem no mesmo espaço e partilham das mesmas situações de aprendizagem. Damázio (2007).
Para Damázio e Ferreira (2010) enquanto as discussões ficam centradas na aceitação de uma língua ou de outra, as pessoas com surdez não têm o seu potencial individual e coletivo desenvolvido, ficam relegadas a segundo plano, descontextualizadas das relações sociais das quais fazem parte, por conseguinte excluídas.
A surdez é uma deficiência que leva o indivíduo a ter perda total ou parcial da percepção sonora devendo ser verificado também em que momento ela se manifestou, se antes ou após a aquisição da linguagem oral e quais as prováveis causas como também os diferentes graus de perda auditiva, entre outros determinantes (MILANEZ, 2011).
Conforme observado por Damázio (2007) há uma inconstante definição quanto às propostas educacionais do surdo no sistema de ensino. Ora tais propostas estão para sua inserção na escola regular ou classes especiais, ora na escola especial.
As políticas educacionais adotadas pelo sistema de ensino do país para inclusão do surdo nas suas instituições de ensino regular parecem pouco eficazes aos olhos de diversos segmentos da sociedade, inclusive de surdos, que rejeitam as propostas por acreditarem que invés de inclusão o sistema passa a promover ainda mais a exclusão, por não ter em sua rede escolas estruturadas para atender as suas peculiaridades.
As tendências linguísticas difundidas no meio educacional visando prover a inclusão do surdo de forma a promover a sua interação, comunicação com os membros de sua comunidade vão se alternando ao longo da história, para tanto o Decreto 5.626/05 que regulamentou a Lei nº 10436/2002 da Língua Brasileira de Sinais, prevê a organização de turmas bilíngue, constituídas por alunos surdos e ouvintes onde as duas línguas: Libras e Língua Portuguesa são utilizadas no mesmo espaço educacional.
A lei também define que para os alunos com surdez a primeira língua é a Libras e a segunda é a Língua Portuguesa na modalidade escrita, além de orientar para a formação inicial e continuada de professores, formação de intérpretes para a tradução e interpretação de Libras e o ensino bilíngue na escola regular (MEC/SEESP, 2001).
Neste sentido vale refletir sobre à inclusão de pessoas com surdez, observando e valorizando a capacidade do aluno de frequentar e aprender em escolas comuns, buscando sempre novas práticas educacionais na escola comum brasileira. 


Referência Bibliográfica
 BUENO, José Geraldo Silveira. Diversidade, deficiência e educação. Revista Espaço. Rio de Janeiro: INES. nº 12, p. 3-12, julho-dezembro, 1999.

 DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação Escolar Inclusiva das Pessoas com Surdez na Escola Comum: Questões Polêmicas e Avanços Contemporâneos. In: II Seminário Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, 2005, Brasília. Anais... Brasília: MEC, SEESP, 2005.  p.108 - 121.
   
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação Escolar de Pessoa com Surdez: uma proposta inclusiva. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2005. 117 p. Tese de Doutorado.

 LANE, Harlan. A máscara da benevolência: a comunidade surda amordaçada. São Paulo: Instituto Piaget, 1992.

 MCLAREN, Peter. Multiculturalismo Crítico. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1999.

 MOURA, Maria Cecília. O Surdo: Caminhos para uma Nova Identidade. Rio de Janeiro: Revinter, 2000.

 PIERUCCI, Antonio Flávio. Cilada da Diferença. São Paulo: Editora 34, 1999.

 PERLIN, Gladis T.T. “Identidades Surdas”. IN:SKLIAR, Carlos (Org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.

 SÁ, Nídia Regina Limeira de. Educação de Surdos: a caminho do bilingüismo. Niterói: Eduff, 1999


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